Palavras do Ministério do Meio Ambiente:
"o Cemit é a única autoridade pernambucana com expertise para tratar da questão"
“Senhores,
Nos dias 22 de dezembro de 2012 e 19 de janeiro deste ano o Globo Esporte e o Jornal Nacional, respectivamente, veicularam matérias sobre a população de tubarões nas praias de Pernambuco. Escrevo-lhes com o objetivo de sugerir um novo enfoque para abordagem do tema. As referidas reportagens apresentaram uma iniciativa que oferece recompensa com o objetivo de abater, indiscriminadamente, tubarões nas praias de Recife e de Olinda, a fim de proteger a integridade dos surfistas que praticam o esporte na área.
Em primeiro lugar, informo que uma ação como esta não apresentará os resultados esperados. Em segundo - não menos importante - a simples oferta de vantagem pecuniária pode estimular que pessoas sem a qualificação adequada tentem executar a tarefa, colocando em risco a própria vida. Tubarões são, de fato, predadores. E se tornam mais ameaçadores quando se sentem acuados.
Além disso, as imagens e depoimentos contidos nas matérias mostram exemplares de tubarões de uma espécie ameaçada de extinção, de acordo com o Anexo I das Instruções Normativas 05/2004 e 52/2005 do Ministério do Meio Ambiente, instrumento legal utilizado na aplicação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº. 9.605/1998), inclusive como agravante de penalidades.
Também é falaciosa a classificação da ação como “pesca preventiva”, feita pelo Propesca, instituto particular local sobre o qual não temos nenhuma informação. De acordo com Lei 11.959, de 2009, Art. 8º, a atividade pesqueira é permitida para fins comerciais, amador, de subsistência ou científico, o que não é o caso.
Vale lembrar, ainda, que tal estratégia vai de encontro às decisões do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT), do Governo do Estado de Pernambuco, única autoridade pernambucana com expertise para tratar da questão. Nesse trabalho, tem contado com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no monitoramento da área, sem o objetivo de eliminar indiscriminadamente os tubarões.
Informamos ainda que os tubarões constituem um grupo de animais marinhos com alta biodiversidade, representado por inúmeras espécies que desempenham um papel ecológico insubstituível para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Os tubarões estavam presentes nos mares há mais de 150 milhões anos e evoluíram mantendo esse delicado equilíbrio juntamente com as demais espécies, mesmo com os impactos humanos como lixo, sobrepesca e degradação de habitats e que tem levado aos infelizes casos de ataque em balneários observados não apenas no Brasil, mas em outras partes do mundo.
Como dissemos anteriormente, a pesca indiscriminada dessas espécies não irá resolver o problema, mas apenas agravar o desequilíbrio ambiental e a condição de ameaça em que se encontram. Os tubarões são, em geral, altamente vulneráveis. Levam muitos anos para atingir a maturidade sexual, com considerável investimento materno para produzir poucos juvenis, possuem uma longa duração de vida e muitos agregam no momento de reprodução, tornando-os alvos fáceis à pesca.
É preciso que os pesquisadores e órgãos de governo possam avaliar e propor medidas que venham a minimizar os riscos, o que vem sendo promovido pelo CEMIT, protegendo tanto os tubarões quanto as pessoas que buscam o lazer nessas localidades.
Seguimos à disposição para o diálogo sobre os temas de competência deste Ministério a fim de colaborar para o importante trabalho jornalístico realizado por essa emissora.
Ministério do Meio Ambiente – MMA, Assessoria de Comunicação”